Sejam bem-vindos, investidores desportivos!

Neste artigo proponho um exercício simples, o de analisar o poder do marketing nas apostas desportivas.

O marketing pode ser definido como a arte de explorar, criar e entregar valor para satisfazer as necessidades do mercado. Este processo inclui a criação de uma estratégia definida para ser utilizada a vários níveis, nomeadamente a que interessa para o artigo, a da dimensão da comunicação. Em suma, a finalidade do marketing é chamar a atenção do cliente.

As casas de aposta, gozam da vantagem de, antes mesmo de entrar qualquer acção de marketing, viverem no subconsciente da maioria como um veículo que com pouco dinheiro, permite ganhar imenso. São sonhos, são desejos da maioria, que sobrevive ao longo do mês até ao dia do “santo” mais popular, o “São Receber”. Para lá de tais sonhos é interessante observar os chavões, que algumas casas de aposta a operar em Portugal, recorrem para cativar apostadores.

Logo à cabeça, sou obrigado a destacar o Placard. E faço-o somente pelo facto de ter sido o primeiro operador licenciado, após regulamentação das apostas em Portugal.

«Aposta na desportiva»

O que significa isto? Porquê apelar ao desportivismo?

Poderá ser pelo facto de ser necessário vestir o equipamento de jogging para dar uma corridinha até ao café do bairro, ou porque é necessário correr avenida abaixo para ir ao quiosque lá da rua e registar a aposta. Também poderá ser pelo facto de ser necessário muita ginástica para encontrar odds de jeito. Mesmo assim, ainda há muita gente a registar apostas nos agentes autorizados.

«Aqui temos testosterodds»

A Betclic faz parte de um grupo de dimensão mundial, estabelecido desde 2005 e já operava em Portugal, antes mesmo da regulamentação. Os seus pregões são dinâmicos e vão mudando de tempos em tempos.

O mais recente é este das testosterodds. A correspondência deverá ser testosterona + odds. Sabendo nós que a testosterona é a principal hormona sexual masculina e um esteroide anabolizante, vulgarmente associado a fazer “crescer coisas”. Quando combinado com odds seria de esperar que as odds da Betclic crescessem, quase como se de uma erecção se tratasse, a ponto de levar o apostador a um orgasmo. Mas as odds da Betclic, continuam a não ser as maiores que encontramos no nosso mercado regulado.

«Aposta já, a um dedo de distância»

Este é o slogan da Bet.pt, cujos anúncios televisivos usam pessoas disfarçadas de dedos para ilustrar a frase. É uma imagem interessante, sobretudo, se considerarmos que esta casa de apostas opera online, disponibilizando a sua oferta através de uma multiplataforma. Mas ficamos por aí, porque cada um daqueles anúncios, isoladamente, são para lá de tristes. Especialmente o dedo que vê o resultado na torrada, ou nas nuvens. Isto é particularmente perigoso quando existem pessoas que levam isso à letra. As odds da Bet.pt são, genericamente, melhores do que a concorrência, todavia, a diferença é mínima e raramente vai além de um tick. Na minha opinião, ainda acho que esta poderia ser a “Casa”, com odds verdadeiramente diferenciadoras das demais, para melhor.

«Aqui, jogas em casa»

Este é o slogan da plataforma online para o placard.pt. A frase é simples e alude ao conforto das nossas casas, atribuindo uma vantagem ao facto de disponibilizar online, o que era possível registar apenas através dos agentes autorizados.

«Aposta que sabes»

Este é/era o slogan associado à casa de apostas Nossa Aposta. Esta frase parece ter sido escolhida a dedo.

O que significa precisamente esta frase? Aposta que sabes, o quê? O resultado da partida? O número de golos, o vencedor?

Nada mais irreal. Um apostador não é um vidente. Os apostadores não apostam que sabem o resultado, apostam porque precificam o evento, porque calculam a odd em que estão dispostos a investir e sempre que há uma divergência dos valores, em benefício do apostador, o investimento é feito.

Apesar de tudo, as casas de aposta licenciadas em Portugal, oferecem as odds que afirmam poder, devido ao modelo de regulamentação que foi adoptado pelo Estado Português e que infelizmente, muito difere do que foi adoptado aqui ao lado, em terras de “nuestros hermanos”. As casas de aposta quando optam entre ter operações em Portugal ou em Espanha, optam pelo segundo, dado que no nosso país o peso das contribuições fiscais é absurdamente elevado e acaba por esmagar o seu próprio juice.

Para além disso, o Estado Português continua a ignorar o elefante no centro da sala e continua sem rever ou alterar significativamente o modelo fiscal que implementou, originalmente. Tal, tem como consequência a “fuga” de apostadores nacionais para casas não licenciadas. Este tema foi levado ao parlamento, numa audiência solicitada pela Associação Nacional de Apostadores Online, que mesmo recorrendo a factos e números, não teve o sucesso desejado.

Por causa disto, continuamos a apostar com 20 e 30 ticks de diferença, o que significa que em Portugal nós compramos um quilograma de tomates a € 3,00, quando o podíamos fazer por € 2,00.

Mesmo assim e com esta perspectiva muito particular, eu sei que o marketing das casas de aposta a operar em Portugal é muito competente, cativando vários apostadores para as suas ofertas. Pena é que as casas já existentes e a operar por cá não se unam, entre si e aos apostadores, para pressionar o governo a melhorar o modelo sobre o qual assenta a regulamentação do sector.

Um bem haja!